pensei em ser alguém e não querer amar ninguém
Sou tão breve como folha de Outono. Não! Sou mais do que um Outono!
Chegou o momento em que os cabelos se partem e os olhos cegam por não querer ver o resta de mim
Alguns pensam que morri, mas eu, eu quero caminhar sem asas, sem dor
O tempo que passou foi eterno demais, contudo, seria tão reconfortante, controlar os sentimentos com uma flauta mágica, como os Encantadores de Serpentes
Dominá-los e retê-los num cesto de verga, mantê-los enfurecidos e quietos por momentos de pequena glória.
Seria tão bom, quase tão bom ser criança de novo e tê-los todos novamente
Sem cabelos brancos, nem bengalas de zambujeiro
Ser feliz é subir uma escada de vidro, cair e esquecer que se existe
Estou a chorar
Choro porque sei que nada do que sinto foi tão real como agora
Os Homens nem sempre têm razão, e sabemos que a anarquia do mundo reside, na verdade, dentro deles, mas choro por não saber o que dizer quando me perguntam
" Estás bem ? "
As palavras colam-se no céu da boca por tempo indeterminado, e nada de útil me vem à memória para compensar esse meu mau jeito
Choro sem razão, não, não sou romântico, apenas sinto saudades e a falta de um mundo em que viver seguro é tão banal como sacudir recordações de uma infância gasta e suja
Quem me dera que houvesse na cama onde choro o conforto e o calor de um corpo não-estranho
Que não se rasgasse como uma boneca de pano, que não fugisse como um gato assustado, que não se perdesse como uma criança triste e carente, tão carente
" Porque não uma voz doce e melódica como a tua, Alice? "
" Estás bem? "
" Gosto de chá com leite e de dormir no colo da minha mãe como uma criança suja de lama "
(sorrisos)
Posso ser Azul um dia, mas além serei sempre
Porque e que o ser humano não tem quatro mãos?
Não seria tudo mais fácil?
Sempre que umas estivessem ocupadas com decadências alheias, as outras dariam o suporte de que tanto se fala por aí
Mas depois de muita consideração, chega-nos a conclusão de que nunca haverá mãos para nos suportar o peso que excede o limiar da estabilidade psicológica
Deixar-mo-nos cair é sempre uma boa solução, mas com tantas mãos no mundo porquê recorrer à solidão
Penso que as mãos que temos já não são suficientemente eficientes para assegurar que, todos os dias, muitas quedas possam ser evitadas
Todos nós sabemos o quanto doí esfolar o joelho, e é tão bom quando mãos fortes e acolhedoras nos agarram mesmo antes de tropeçar
E é tão bom sentir-mo-nos seguros, seguros de nós mesmos e ter a completa certeza de que, jamais, nos magoaríamos propositadamente
Tão bom sentir-mo-nos amados, nem interessa que não o sejamos, desde que acreditemos que muitas mãos estão, todos os dias perto de nós, cá dentro, no fundo
Sabemos que não há perigo no chão, podemos cair, e saber que nunca chegaremos a fazê-lo
Sabemos que há mãos, há sempre mãos
Sou a sombra que dança ao amanhecer, sou a dança que amanhece na sombra
Ser alguém é tão fácil como dizer que sim, que somos feitos um para outro
Amo-te
É tão fácil dizer amo-te a alguém que nem se conhece
Posso amar-te hoje e amanhã e nunca te ter visto, mas claro que, te amo.
Amo-te é apenas a velha caixa onde fazemos do medo um prisioneiro constante
E é ainda mais fácil dizer que sim, é tão fácil dizer que doí, e que sim, escutamos, quando nem se sabe quem está, realmente a falar
Com o passar do tempo, deixamos de o fazer e amo-te passa a um forçado e desdenhoso bom dia, boa noite
Sem darmos por isso, envelhecemos
A vida é agora a velha memória de sim, amo-te
Damos por nós quietos, cegos e doentes
É tão fácil morrer-se sozinho, e deixar morrer quem não se deseja,
como é fácil viver num mundo onde é
ainda mais fácil dizer Adeus
Não sei por onde caminho, mas sei que a felicidade não é por aqui